“Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes” – Paulo Freire

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Vitória da Conquista está estarrecida com o audio vazado de um dos grupos sindicais que atuam na cidade. Nossa reportagem ainda se encontrava em Salvador, nesta quarta-feira (07/06), quando tomou conhecimento da repercussão negativa desencadeada pela fala preconceituosa e segregatória.

E para não dizer que há qualquer mínimo exagero nesta abordagem do Blog do Cabral, segue o trecho transcrito da mensagem que viralizou nas redes sociais em toda a Bahia: “gente nós tamos lidando aqui com professores, nós não estamos lidando aqui com serviços gerais, nós não estamos lidando aqui com motoristas, que talvez não tenha o conhecimento e não tem o piso que nós temos, então vamos valorizar o que a gente faz na sala de aula”.

Mas afinal, o que é que um professor faz e ensina na sala de aula, questiona a sociedade conquistense. Mais que revirar o túmulo do patrono da educação brasileira, o grito de guerra emitido pela diretora do Sindicato Municipal do Magistério Publico (Simmp), revirou a opinião pública diante dos princípios que norteiam a tão nobre profissão de educar.

Dentre os ensinamentos de Paulo Freire sobre a consciência do professor, o de “para se mover como educador, primeiro, é necessário se mover como gente” foi atropelado pela instituição que, ao representar educadores, jamais poderia pensar e emitir um conceito tão classificatório e depreciativo. A fala representa o pensamento mobilizatório da entidade que se desgasta mais a cada dia e se perde no próprio discurso.

A idéia de que quem trabalha nas funções de motorista e serviços gerais “não tenha o conhecimento” é inaceitavelmente preconceituosa por parte de quem deveria ensinar o que preste, e corre na contramão do nobre pensamento educacional. Me pergunto, a qual “conhecimento” se refere a diretora sindical? Parece que a professora diretora, que acredito representar uma minoria na categoria, precisa aprender de Freire que “não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes” e que a “educação muda as pessoas e pessoas transformam o mundo”.

O professor deve assumir um papel ativo contra todo tipo de discriminação, exaltando a importância e beleza da  diversidade de todas as profissões que juntas formam a sociedade. Detalhe, para isso ele não precisa ser ativista social ou sindical, precisa apenas ser um bom exemplo para seus alunos.

Responsabilidade é a obrigação que um indivíduo tem pelos seus atos. É uma virtude do ser humano, que nem todos têm. Um dos principais fundamentodores do ‘Direito’, Immanuel Kant, afirma que“o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”, então estamos diante de um cenário confrontador.

A comunidade conquistense repudia o posicionamento do Simmp que ao representar e reivindicar “direitos” falha em não saber como imperativo o dever de agir de conformidade com a permanência da vida humana, respeitando os seus semelhantes. Quem quer valorização, precisa valorizar o próximo, neste caso, aprender a valorizar o próximo.

A indignação por parte dos servidores citados de modo pejorativo gerou o posicionamento do Sindicato Municipal dos Servidores Públicos (Sinserv), cuja carta de representação cobre todas as categorias, incluindo professores e seus pares, que trabalham na conjuntura da educação municipal: os serviços gerais, que recebem, organizam, limpam e preparam alimentos para todos no ambiente escolar.

Concordamos com a Nota de Repúdio do Sinserv quando defende que “sem os motoristas, muitos professores não chegam as escolas. A coletividade faz uma escola unânime e igualitária, onde todos se respeitam e contribuem para que todos aprendam o valor que cada profissional tem ao desempenhar seu labor! Levam o sustento para suas famílias e não há nada que torne uma categoria melhor que a outra”.

Tentar desqualificar a defesa do Sinserv aos pedagogos, monitores, faxineiros, merendeiras e motoristas é subestimar a capacidade de entendimento de todos diante do que foi clara e publicamente difundido e toda a comunidade aguarda a retratação pública por parte do Simmp, muito embora seja impossível recolher todas as penas lançadas ao vento, do mais alto dos prédios: o da Educação.