O clima é tenso entre os dois maiores partidos da Federação Brasil da Esperança: PT e PCdoB, de Vitória da Conquista. As relações entre os dirigentes já apresentavam ranhuras, desde que o presidente do Partido dos Trabalhadores, Isaac Bonfim, chamou vereadores comunistas de oportunistas e afirmou que o PT não aceitaria a indicação de vereadores do PCdoB que não fizeram oposição à prefeita, e se arvorou a criticar os parlamentares, que votaram por projetos de autoria da prefeita Sheila Lemos Andrade (UB), uma anticamaradagem difícil de relevar.
Na oportunidade, o dirigente petista tomou para sí a avaliação e direito de opinião sobre a situação, tratando-a com pluralismo e na primeira pessoa: “Nós temos o problema instaurado em Vitória da Conquista, nos últimos três anos, que a posição de dois vereadores do PCdoB que tem sido contraditória à bancada de oposição. A gente espera que esses dois vereadores tenham a necessidade de refletir sobre a caminhada política deles de agora em diante”. O recado pegou mal, repercutiu negativamente dentro da federação e irritou a direção do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Bahia.
Pior ainda, o presidente invocou ali uma resolução interna que trata a indicação de vereadores como pré-candidatos para as eleições do próximo ano e tentou agir com o protagonismo da decisão, afirmando, inclusive, que “a formatação da federação depende dos partidos e da anuência do PT“, que figura como partido lider na agremiação. Deu ruim!
Imediatamente, Élvio Magalhães, um dos principais caciques do PCdoB conquistense e membro do comitê estadual, conclamou a união entre os partidos da federação como instrumento para a vitória nas eleições municipais de 2024 e rebateu a intromissão petista, ressaltando a autonomia interna do partido comunista.
Magalhães deixou claro que “apesar de terem constituído a Federação Brasil da Esperança, cada partido mantém sua autonomia interna, e o PCdoB jamais negociaria a sua“. Em resposta à provocação do dirigente petista, Élvio reafirmou que “os vereadores Luciano da Limeira, Doutor Andreson e Ricardo Babão têm a confiança do partido, tem mérito na reeleição do deputado estadual Fabrício Falcão e na eleição do govenador Jerônimo, e serão sim candidatos à reeleição pelo PCdoB“.
Daí por diante, foi só enfrentamento. Em entrevista concedida nesta terça-feira (27/06), à Rádio UP, o deputado estadual Fabrício Falcão, maior liderança do PCdoB na cidade e região, foi contundente ao rebater o dirigente do PT local. Sem citá-lo pelo nome, chamou-lhe de idiota e respondeu que “ninguém de fora pode falar pelo PCdoB e não falará”.
O líder do PCdoB na Assembleia, colocou Bonfim no lugar, ressalvando a independência de cada partido dentro da federação. “Cada um com seu CNPJ próprio e com sua vida programática independente. Quem manda no PT são seus presidentes, e quem manda no PCdoB são seus presidentes“, argumentou, defendendo a autoridade do presidente comunista em Vitória da Conquista, o advogado Glauber Rocha, para a decisão de quem será ou não candidato a vereador pelo partido.
Em entrevista ao Blog do Cabral, o dirigente local também foi taxativo sobre a indiscrição do dirigente petista: “não dá pra um forasteiro dizer o que o PCdoB tem ou não que fazer, quem escolhe e dita a vida partidária do PcdoB é sua direção“. Glauber Rocha argumentou, ainda, sobre a contribuição do PcdoB no processo de transformação de Vitória da Conquista e ressaltou a força do partido: “contamos com 3 vereadores na Câmara Municipal e um deputado estadual“.
O presidente esclarece que o interesse do partido “é construir a unidade, um bom ambiente político, mas pra que isso aconteça é primordial que o respeito seja mútuo“. Segundo ele, “até os mais ortodoxos do PCdoB se sentiram inconformados com as declarações de outras legendas“.
Sobre as eleições de 2024, o foco está mantido. “Nós temos um projeto político, trabalhamos para homologar internamente o apoio ao candidato do PT Waldenor Pereira, como fizemos com lula e Jerônimo, estadual e nacionalmente“.
Brasil da Esperança
Resultado de uma construção coletiva entre as direções nacionais do PCdoB, PT e PV, a Federação Brasil da Esperança foi criada há um ano, com o propósito de defesa da soberania nacional, do desenvolvimento ambientalmente orientado, do regime democrático, do pluripartidarismo e dos direitos fundamentais da pessoa humana, fundamentada na lei 14.208/21.
A lei defende o respeito, a autonomia, a identidade e a personalidade jurídica de cada um dos partidos que integram a federação e invoca mecanismos e estrutura de funcionamento baseados no permanente diálogo e interlocução entre os partidos e suas direções. Muito embora confira uma espécie de poder de veto à principal sigla, apresenta, também, um mecanismo que impede a maior legenda, no caso o PT, de tomar decisões sozinha na principal instância deliberativa da aliança, a partir de seu estatuto.
Ver essa foto no Instagram